Jargões entram em alta e baixa no mundo dos negócios e, quando em alta, sinalizam um lugar onde precisamos explorar. Por algum tempo, a necessidade de "inovar" tornou-se cotidiana para meus clientes, um reflexo de que velhos paradigmas estão sendo quebrados em várias frentes.
Quando minha filha estava no terceiro ano, tive o prazer de ver um garoto mudar o paradigma para seu trabalho de arte. As crianças tinham recebido pedaços de papel para pintar e colar em uma folha maior. Os obedientes pintaram e colaram esses pedaços dentro dos limites da folha dada. Já o garoto pediu um par de tesouras e remodelou tudo. E conforme ia colando seus fragmentos na base redesenhada, nenhum ficou dentro das margens - rabichos encaracolados, círculos concêntricos e dobraduras saltando para fora das bordas redefiniram limites. O que começou como unidimensional tornou-se bidimensional. Era uma mudança de paradigma em movimento.
Quando há um chamado para inovação, é comum abordarmos qualquer problema com a mesma mentalidade, moldada pelo paradigma anterior. Olhamos sob a ótica dos confinamentos do passado ou do confinamento da expectativa. Como escapamos desse paradoxo da mente e sua repetitiva subversão do pensamento criativo?
Muitos assumem que a consciência emana e é delimitada pela mente. No entanto, quando aquietamos a mente através de práticas contemplativas como meditação, finalmente descobrimos que a consciência está além da mente. Verdadeira inovação, juntamente com qualquer ato de criatividade, desperta e manifesta-se do infinito campo da consciência inteligente, que existe além da mente. Isso algumas vezes é chamado de pura consciência. E esse estado está acessível a todos. Mas como?
Pessoas altamente criativas normalmente realizam algum ritual específico para ajudá-las a acessar esse estado, como correr, ouvir música ou jogar bilhar. Essas práticas levam a mente para longe do problema a ser resolvido ou do ato de criação em si. Inversamente, há momentos nos quais essas pessoas são simplesmente tomadas pelo fluxo criativo, colocando-as em imediato estado de ação. A criatividade pode tanto ser evocada como tomar posse de nós, assim, inadvertidamente.
Quando pedimos, sob demanda, que nossos colaboradores se tornem mais "inovativos", é útil saber que essa capacidade não nasce da mente tagarela e agitada. Como já dito, em atos de criação é comum descobrirmos que a mente obstrui nossa capacidade de consistentemente acessarmos o campo da criatividade. É por isso que aparecemos de mãos vazias quando tentamos criar algo novo através da lógica, da exploração passo a passo do problema. Outros caminhos, como sessões de brainstorm desestruturado, podem ser altamente efetivos. O ritmo dessas sessões mantém a mente avaliativa sob controle, encorajando as pessoas a extraírem de seu impulso criativo mais profundo.
Para quem deseja reforçar sua relação com o criativo, nada é mais potente do que cultivar o silêncio para acessar a voz interna mais calma e sutil. A prática do silêncio é igualmente poderosa em encontros de brainstorm. Ao deslocar a consciência do grupo para a superfície, espelhando, assim, a coleção de egos ali reunidos, a prática torna manifesta a criatividade coletiva até então ali escondida, como uma lagoa sob a terra.
Dado o ritmo frenético do mundo dos negócios, cultivar o silêncio nesse contexto é um ato radical. Talvez essa necessidade de repensar as organizações seja uma oportunidade para realizarmos uma verdadeira mudança de paradigma. E nos reconectarmos com esse gesto simples e profundo. Assim, encontraremos inspiração e amplo acesso à verdadeira visão, tendo ainda como prêmio a revitalização de nossos corações e mentes.